TERCEIRA EDIÇÃO BIENAL DE ARTE CONTEMPORÂNEA ANOZERO – MARILÁ DARDOT
Para o curador, Agnaldo Farias, a exuberância de Coimbra, que fica às margens do imponente rio Mondego, completa a ligação entre as palavras de Guimarães Rosa e o simbolismo da bienal. “É uma cidade notável pelo patrimônio, por uma arquitetura antiga, extraordinária. E aí veio-me à cabeça a ideia do conto de Guimarães Rosa 'A Outra Margem do Rio', onde a figura do pai constrói um barco, que é um espécie de parênteses, de caixão, e vai para o meio do rio e lá fica para nunca mais voltar. Isso pareceu-me muito instigante para estabelecer até uma analogia com o que acontece no campo da arte”, explica o curador.
Agnaldo Farias traz um outro toque brasileiro para a Bienal de Coimbra. Natural de Minas Gerais, o curador soma ao evento experiências anteriores na curadoria da Bienal de São Paulo. Na cidade portuguesa, apresenta uma mistura entre artistas do Brasil e de outras partes do mundo. “Nós trouxemos 39 artistas que representam algumas das diretrizes mais interessantes do nosso tempo”, diz Agnaldo.
Entre os nomes brasileiros está a artista visual Marilá Dardot, cuja obra parte do conto de Guimarães Rosa para uma provocar questionamentos em quem lê. A artista colou perguntas e respostas em uma das paredes externas do convento de Santa Clara, prédio histórico que é o coração da Bienal.
“Reli esse conto através da ótica de um relato da estrutura patriarcal. Depois fui pesquisar o trabalho de algumas autoras portuguesas que foram censuradas durante a ditadura de Salazar. Encontrei um poema de Natália Correia, que foi uma das mais censuradas. Esse poema, que se chama ‘Ricochete’, é um poema todo com perguntas. Uma das perguntas que ela se faz é ‘que margem tem o rio para além de suas margens?’. Achei que encaixava muito bem, então o que está escrito na fachada é um diálogo entre o personagem de Guimarães Rosa e esse poema de Natália Correia”, conta a artista.